[Covid-19] Lares de idosos precisam de voluntários, mas especializados

Por Susana Pedro , 31 de Março de 2020 Notícias


Nas últimas semanas, temos vindo a assistir a um acentuar das dificuldades em lidar com a Covid-19. Os números de infetados e falecidos aumentam diariamente, e já há casos preocupantes em lares de idosos. A DGS continua a atualizar as informações que envia, e procura dar resposta à pandemia.



Regras de higiene e prevenção apertam


Com o aparecimento de casos positivos e mesmo mortes em utentes de lar de idosos, as medidas de higiene e segurança foram apertando. Há maior rigor na desinfeção de espaços e na utilização de materiais descartáveis recomendados pela DGS para minimizar a propagação de coronavírus. Não se pretende que os lares de idosos portugueses sigam o exemplo espanhol, onde infelizmente já faleceram muitos utentes.


Mas estes novos procedimentos apenas são um avolumar do trabalho já antes muito pesado que as auxiliares geriátricas têm nos ombros. 



Para além de serem um acrescento a nível de trabalho, também as fazem perder tempo. O tempo excedente que servia para falar dois minutos com alguns utentes e fazê-los rir já não é fácil. Para além de que toda a interação entre auxiliares e idosos está cada vez mais regulamentada, e para segurança dos idosos é melhor terem menos contacto com outras pessoas. Os abraços e carinhos acabam por sofrer muito com esta situação.



Lares de idosos têm menos pessoal


Uma das primeiras medidas a ser tomadas foi o encerramento provisório de todas as escolas, creches e faculdades do país. Assim que as escolas foram fechadas, os encarregados de educação de todas as crianças com menos de 12 anos foram obrigatoriamente para casa, tomar conta delas. Isto levou a que os lares ficassem consideravelmente enfraquecidos a nível de força de trabalho.


A assistência à família, devido às escolas fechadas, acabou por depauperar muito as equipas operacionais dos lares de idosos.



A Ministra da Saúde e da Diretora-Geral da DGS consideraram que as equipas de auxiliares geriátricas deveriam funcionar em ‘espelho’ e que por cada equipa a trabalhar deveria haver uma em casa, sempre a postos. No entanto, como ficou claro na sondagem que promovemos, a maioria dos lares de idosos não consegue ter uma segunda linha de profissionais. Seja por motivos financeiros ou por falta de pessoal qualificado à procura de emprego, a nova contratação é um grande entrave às instituições.



Portaria dos serviços essenciais foi atualizada


Para tentar responder ao problema de postos de trabalho vazios na área social, foi criada a Portaria n.º 82/2020, onde os trabalhadores de lares estão contemplados, seja os privados seja os sociais. Já não se tratam apenas das forças de segurança e de saúde que estão contempladas e que podem continuar a executar livremente o seu trabalho. Para isto, as escolas que estavam disponíveis para receber os filhos dos serviços essenciais passam a aceitar também os filhos de auxiliares geriátricas.


No entanto, na prática, ainda prevalece a assistência à família.



Os lares de idosos continuam com pouco pessoal, pessoal este a fazer turnos de 12 horas para cobrir as necessidades dos idosos institucionalizados. Existem também relatos de auxiliares que, para minimizarem os riscos de contágio dos transportes públicos, foram instruídos a fazer 14 dias seguidos de trabalho, de forma interna no lar. Tudo isto para proteger os mais idosos, e manter os lares a funcionar apesar das faltas de pessoal. 



Bolsas de voluntários criadas por todo o país


As equipas de reforço citadas pela DGS incluíam também a possibilidade de voluntários fazerem um pouco pelos mais idosos. Vários lares de idosos contavam, antes da pandemia de Covid-19, com voluntários para fortalecer os seus quadros, que têm diversos papéis na vida dos utentes. Com este mote, houve várias bolsas de voluntários que surgiram e até têm tido algum sucesso, e outras que ressurgiram, pois já existiam e apenas foram mais visíveis nesta altura, com modelos para imensas lacunas existentes. 


Uma delas é a Bolsa de Vizinhos, onde os voluntários pretendem ajudar idosos que vivam sozinhos a fazer as compras essenciais.



Os voluntários destes projetos colaboram com o grupo de risco levando-lhes os produtos essenciais (medicamentos e comida, essencialmente) à porta de casa para que não corram riscos. São deixados à soleira da porta, de forma a minimizar o contágio humano do vírus.

No caso dos lares de idosos, as bolsas de voluntários que interessariam para colmatar são as que agregam pessoas disponíveis para integrar os lares e colaborarem no interesse dos idosos residentes. Seria necessário terem disponibilidade a part-time, pelo menos, mas o melhor seria mesmo uma disponibilidade total para cobrirem alguns turnos.



Lares precisam rápido de voluntários com conhecimento especializado

No entanto, considerando a situação de Estado de Emergência, em que a quarentena foi assumida pela grande maioria da população, a integração de voluntários pode levar a um dilema. Por um lado, é necessário proteger os mais vulneráveis (neste caso os grupos de risco constituídos essencialmente pelos idosos) no que nos seja possível, seja ir fazer compras e deixar na soleira da porta seja colaborar num lar de idosos.

​Por outro lado, é-nos incutida a necessidade de estar em casa exatamente para minimizar as vias de contágio, pois todos podemos ser transmissores assintomáticos de Covid-19.  As duas iniciativas acabam por entrar em conflito, principalmente devido à quarentena instituída a nível nacional. A isto acrescenta-se o facto de o trabalho de um auxiliar geriátrico ser muito particular e necessitar de conhecimento especializado.


Quem nunca cuidou de um idoso mais dependente não tem o conhecimento técnico para poder trabalhar num lar de idosos, mesmo a nível de voluntariado.



Os idosos institucionalizados têm vários graus de dependência, e enquanto uns estão perfeitamente aptos para tomar conta de si, outros necessitam de ajuda até com a própria higiene. Assim, é necessário saber manusear banhos, sondas, mudar de posição os idosos acamados e outras tanta capacidades que não são comuns a toda a gente.

​Trata-se de trabalho pesado, mas com rigor técnico e pormenor. Trata-se de um trabalho muito delicado. Estamos a falar de vidas humanas, que dependem das auxiliares geriátricas para terem alguma qualidade. Não podemos tratar do cuidar de pessoas como tratamos das compras da semana.



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