O idoso não aceita a ida para um lar: e agora?

Por Sónia Domingues , 09 de Março de 2022 Dependência


Habituados a educar e cuidar dos seus filhos e a ter uma vida ativa, por vezes os idosos têm dificuldade em perceber que agora, nesta fase mais adiantada da vida, são eles que necessitam de ajuda e suporte, sob pena de perderem a qualidade de vida a que estão habituados. A ida para um lar aparenta uma perda de escolha, independência e mesmo qualidade de vida.


Os familiares dos idosos acabam por encontrar uma resistência contundente à sugestão de que necessitam de ajuda. Esta relutância aumenta tanto mais quando se sugere a mudança para o lar ou residência sénior, em que os idosos poderão encontrar a segurança, conforto e cuidados de que necessitam. Saiba neste artigo porque o seu familiar idoso pode estar tão relutante a aceitar a ida para um lar.



Negligenciando os cuidados a si mesmo


A autonegligência em idosos é caracterizada por uma conduta autodestrutiva, que ameaça a própria saúde e segurança do idoso, ao negligenciar os cuidados mais básicos a si mesmo. A autonegligência no idoso pode ser causada por vários motivos, como relações sócio-familiares fragilizadas, isolamento social, solidão, depressão, doença mental, uso abusivo do álcool e a perceção negativa do envelhecimento.


Os sinais de autonegligência podem ser mais ou menos visíveis, mas a longo prazo são debilitantes e podem levar a problemas de saúde ou acidentes, como quedas.



Os sinais de autonegligência podem ser visíveis - como roupas sujas e pouco cuidadas e a casa suja ou infestada de animais ou insetos - ou menos visíveis - como alimentação descuidada ou insuficiente, que pode causar desnutrição e desidratação. Por mais que queiram, hoje em dia os membros da família não têm a disponibilidade necessária para acompanhar o idoso, e também não têm os conhecimentos necessários para tratar os idosos de forma adequada.


O idoso pode recusar ajuda médica ou tratamento. Nestes casos, a intervenção da família é fundamental para fazer reverter este quadro. Poderá ser contactado o médico de família do idoso, ou um assistente social, para determinar se o comportamento do idoso se insere no quadro clínico da autonegligência. 



Compreender porque está o idoso relutante


Esta é uma questão que pode ser sensível, uma vez que o idoso poderá recusar ajuda médica, ou mesmo apoio na rotina diária e na sua habitação, por se encontrar fragilizado. Falando na possibilidade de ir para um lar, muitos idosos relutantes fecham-se em copas, podendo mesmo tornar-se agressivos verbalmente. Para estes idosos mais relutantes, terá de se deslindar os motivos pelos quais são tão inflexíveis à ideia de serem ajudados. Depois de saber os motivos, será mais fácil conseguir contornar a obstinação, que apenas os prejudica.


O idoso pode recusar ir para o lar por diversos motivos, que devem ser abordados de forma particular, numa conversa com calma e tato.



​O idoso poderá ter diversos motivos para estar a recusar ajuda. Os familiares devem tentar entender o idoso, primeiramente, ouvindo as suas explicações com atenção, sem julgar precipitadamente e, principalmente, sem infantilizar o idoso. O idoso também poderá ter receio da mudança para o lar, pelo que é preciso desmistificar este medo. O idoso também poderá recusar o apoio com base em questões financeiras, porque considera que a despesa não é justificável, ou que ele não «merece» que se gaste dinheiro de forma injustificada.



Abordagem adequada consoante a razão do idoso não aceitar a ida para lar


​A partir do momento que se discerne a motivação do idoso em recusar ajuda, poderá ser mais simples a resolução desta contrariedade. Os familiares têm que ter em conta a motivação para lidar da melhor maneira com o idoso, de modo a que não se criem mais fricções ou desentendimentos.


Receio de perder a independência > fasear a transição

O idoso pode recusar ajuda por uma questão de independência ou por medo de perder autoridade. Nestas situações, o familiar poderá negociar com o idoso as condições em que este vai receber o apoio. Alguns idosos não querem «receber ordens» dos seus filhos. Para estes casos, é necessário encontrar uma estratégia, para levar a que o idoso reconheça as próprias fragilidades e seja ele próprio a tomar a decisão de recorrer a ajuda exterior.

Opte por argumentos claros e bem definidos e priorize as necessidades do idoso. Poderá começar com pequenos ajustes ou apoios, e depois, à medida que o idoso se habitue, procurar amplificar a assistência necessária. Comece portanto com ajuda domiciliária, e vá prosseguindo até à entrada em lar de idosos.



Possibilidade de demência > envolver pessoa com autoridade

Na origem desta recusa poderá estar o início de um doença mental degenerativa, como demência. É importante ter atenção a esta possibilidade quando o idoso não apresenta argumentos válidos, ou apresenta algumas dificuldades em compreender a mensagem ou na expressão. Agressividade extrema, períodos de confusão, alterações no comportamento ou personalidade, apatia... todos estes são sinais de uma possível demência. Frequentemente, esta vem com a recusa de ajuda ou ida para um lar. Se o idoso apresentar indícios de estar a desenvolver uma doença de foro neurológico, convém procurar ajuda especializada.

Envolver uma terceira pessoa, com autoridade, como seja o médico de família ou o pároco local, poderá ser uma boa solução para convencer o idoso a aceitar a ida ao médico especialista. Em casos mais extremos, em que o idoso apresenta já sinais de falta de lucidez, poderá ser necessário recorrer a um suporte jurídico.



Medo financeiro > tranquilizar e procurar apoio da família

A questão financeira também é um pretexto frequente na recusa de ajuda por parte dos idosos. Um lar de idosos é considerado caro, independentemente da necessidade do idoso em ter apoio permanente. Principalmente se for considerado vender património do idoso para fazer face aos custos da mensalidade. O idoso fantasia em passar a sua herança às gerações vindouras, incluindo a sua casa, joias e outros objetos de valor.

O familiar poderá tranquilizar o idoso, e envolver outros familiares, como os netos, para que este perceba a importância que tem no seio da família e que é merecedor deste auxílio. Também poderá procurar soluções junto das autoridades e instituições sociais, se houver dificuldades em pagar a mensalidade do lar, quanto a apoios a que o idoso poderá estar habilitado.



Preconceitos e medo do desconhecido > mostrar a realidade do lar

Por vezes, quando a solução escolhida é a mudança para o lar de idosos, a recusa pode estar ligada a preconceitos errados e desatualizados. Os lares ainda são vistos por muitos como instituições tristes e onde os idosos ficam sós. Nesta situação, importa persuadir o idoso de que a realidade do lar já não é essa. Será de grande importância que o lar de idosos escolhido tenha características que vão de encontro ao que o idoso está habituado ou que gosta. Falamos de comodidades como jardim ou ambiente de cidade, espaço para horta e jardinagem, um espaço para culto religioso, entre outros aspetos.

O familiar pode tranquilizar o idoso, garantindo a qualidade do lar onde este vai ser acomodado. Poderá indicar um idoso conhecido que também está alojado no mesmo espaço, sempre que seja o caso. Também pode visitar o lar, enumerando os serviços que estão disponíveis para o idoso.



Possibilidade de depressão > procurar ajuda médica

O envelhecimento potencia a depressão. Se o idoso mostrar indícios de estar deprimido e ser esta a razão de não querer ajuda, deve procurar ajuda médica. Mantenha-se atento a sinais como alterações rápidas de humor, tristeza profunda, choro sem motivo aparente, queixas frequentes ou desânimo. Por vezes, a depressão vem associada a problemas no sono, ou mesmo insónia.

Ajuda profissional é incontornável para lidar com esta doença, que poderá provocar no idoso uma predisposição autodestrutiva e a recusa em obter o apoio de que necessita. Se o lar tiver a possibilidade de acompanhamento psiquiátrico e psicológico, marque uma consulta para o seu familiar idoso. Pode ser necessário acompanhamento de terapias e medicação.



Encontrar o momento perfeito para o idoso aceitar a ida para lar


O familiar não deve culpabilizar-se, caso o idoso continue a recusar ajuda. Por vezes, será melhor aguardar por uma conjuntura mais favorável para que o idoso compreenda que precisar de assistência não é sinónimo de inferioridade. Alguns idosos precisam de algum tempo para se familiarizar com a ideia e reconhecer que necessitam de ajuda.


Mas não recue totalmente. Se está preocupado com o seu familiar idoso, provavelmente tem razões para isso e não pode esperar que o idoso tenha uma queda ou complicação de saúde para insistir. Se for possível, procure a ajuda de um psicólogo, para o idoso compreender e aceitar melhor a ajuda necessária e não o ressinta.



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