Não tem culpa de querer o melhor para a sua mãe idosa

Por Joana Marques , 16 de Novembro de 2020 Dependência


Decidir-se por colocar o seu familiar idoso num lar pode ser uma das decisões mais difíceis com que se deparou na sua vida, especialmente se o idoso em questão for seu pai ou mãe.  A decisão de colocar o idoso num lar pode despoletar sentimentos de culpa e a crença de que o está a abandonar.


A decisão de um idoso ir para lar provoca um conflito interior: racionalmente é a melhor opção, mas emocionalmente é uma realidade difícil de aceitar.



Procurar ajuda profissional pode fazer com que sinta que falhou com o seu familiar idoso, mas optar por um lar não significa que está a desvalorizar o valor do conceito de família ou que não se preocupa. Neste artigo, explicamos-lhe que não se deve sentir culpado por querer o melhor para o seu familiar idoso quando já não é possível cuidar dele em ambiente familiar.



Os lares são um sinal dos tempos


Em Portugal, a família sempre foi o grande suporte dos idosos e por tradição era a família próxima (geralmente os filhos) que se encarregava de cuidar do idoso quando este já não era capaz de cuidar de si próprio. A família continua a ter um papel muito importante no acompanhamento e prestação de cuidados das gerações mais velhas, mas é cada vez mais difícil encontrar um ponto de equilíbrio entre a tarefa de cuidar de um idoso em casa e as exigências da vida moderna.



As alterações demográficas, sociais e económicas reduziram o número de pessoas disponíveis para cuidar dos seus idosos, o que explica o aumento da procura de vagas em lar.



Os idosos vivem cada vez mais anos e exigem cada vez mais cuidados e dedicação à medida que vão envelhecendo. As mulheres, que antigamente estavam mais disponíveis para serem as principais cuidadoras, dão prioridade aos filhos e ao trabalho, e têm cada vez menos disponibilidade para acumular o papel de cuidador informal. Além disso, as famílias são cada vez mais pequenas  e dispersas, devido ao aumento da taxa de divórcios e à flexibilização do mercado de trabalho em termos geográficos.



É cada vez maior a probabilidade de os idosos acabarem os seus dias em lares por iniciativa de si próprios, dos filhos ou de familiares próximos.



Atualmente, as famílias são mais dinâmicas e flexíveis e optar por colocar o idoso num lar não deve ser fonte de dúvida, culpa e sofrimento, mas antes o reconhecimento de que nestes novos tempos não existe a capacidade e disponibilidade de outrora para cuidar a tempo inteiro. 



Os sentimentos de culpa são comuns 


Por múltiplas e diversas razões, nunca é fácil dizer à sua mãe ou pai que vai ter de ir para um lar de idosos. Durante este processo, é normal que se sinta ansioso e angustiado, pois a decisão de institucionalizar um dos seus pais (ou ambos) é uma inversão de papéis que o fragiliza emocionalmente.



Não é fácil estar na posição de ter que passar a ser pai dos seus pais.



É possível que se veja confrontado com uma ou mais das seguintes afirmações e que sinta que falhou enquanto filho e, consequentemente, se sinta culpado. No entanto, é importante que encontre mecanismos para lidar com esse sentimento de culpa, caso contrário pode prejudicar o seu relacionamento com o idoso e aumentar os níveis de ansiedade de todos os envolvidos na tomada de decisão.


1 - Não sou capaz de tomar conta da minha mãe

É saudável admitir que deixou de ter condições para cuidar do seu familiar idoso e que está tudo bem se optar por um lar de idosos, por muita resistência que sinta em dar esse passo. 


O envelhecimento dos pais é desconcertante para os filhos, que não reagem bem quando são confrontados com a fragilidade dos seus heróis da infância. A inversão de papéis transfere para os filhos a responsabilidade de cuidar dos pais, mas pode acontecer que os filhos não tenham condições para o fazer e é nessa altura que emerge o drama em torno da institucionalização.



Não se martirize ou tenha medo do julgamento moral por parte de familiares e amigos. Assumir que já não tem condições para cuidar do idoso é um ato de coragem e revela que só quer o melhor para ele.



Até que o estado de saúde do seu pai ou mãe piore ao ponto de precisar de cuidados profissionais e especializados, é perfeitamente possível que tenha capacidade para cuidar dele, seja em sua casa ou na casa do idoso. Há uma altura em que a vontade de cuidar do idoso não é, por si só, suficiente, pois não tem a capacidade material, técnica e emocional para o fazer. 


Por vezes, as necessidades dos idosos alteram-se de forma abrupta, sem que tenha tempo para se preparar emocionalmente para o facto de já não ser capaz de proporcionar os cuidados adequados. Não se sinta culpado por não ter formação e informação suficiente para lidar com a doença e a dependência.


É expectável que o grau de dependência do idoso vá aumentando à medida que se agrava o estado de saúde e aumenta o grau de incapacidade. Não deve sentir que falhou enquanto filho quando se aperceber de que já não consegue proporcionar a qualidade de vida que o seu pai ou mãe merece. Optar pela institucionalização é reconhecer que um lar de idosos dispõe de todos os recursos para que o seu familiar idoso esteja em segurança e seja bem cuidado.



2 - Não é normal sentir-me aliviado

É normal, porque o papel de cuidador informal pode levar ao desenvolvimento de sentimentos contraditórios. Por um lado quer retribuir os cuidados que o seu pai ou mãe lhe deu, mas por outro sente que não está preparado para gerir as dificuldades sentidas no dia-a-dia.



A exigência dos cuidados pode levar ao esgotamento físico e emocional de quem cuida, pelo que é natural sentir um certo alívio quando essa responsabilidade é passada para os lares.



Estar numa situação em que pai ou mãe que necessita de ajuda é, por si só, fonte de ansiedade. Vão sempre existir circunstâncias em que tem medo de não conseguir estar presente quando o idoso precisa e de não estar a fazer o suficiente para garantir o seu bem-estar. Além disso, cuidar implica ter menos tempo para outras atividades sociais e de tempos-livres. 


É normal sentir-se aliviado: cuidar é uma tarefa recompensadora, mas extenuante. Pensar no bem-estar de todos não é uma extravagância, é uma necessidade. Depois da tomada de decisão de institucionalizar o seu pai ou mãe é natural sentir algum alívio, porque a situação anterior não era benéfica para ninguém. Se esse sentimento o incomodar, lembre-se que está a optar pela segurança, saúde e estabilidade emocional de todas as partes envolvidas.



3 - Falhei em retribuir o que a minha mãe me deu

Não falhou. Os seus pais não cuidaram de si na expectativa de serem retribuídos. Isso seria o mesmo que dizer que o amor filial assenta num contrato em que os pais investem nos filhos como um seguro de vida a cobrar no futuro. 



Em vez de se consumir com sentimentos de culpa, invista no seu relacionamento emocional com o idoso.



Lembre-se de que na velhice os pais também se sentem culpados porque se convencem de que são um fardo para os filhos. Nem uns nem outros se devem deixar levar por sentimentos de culpa. O fundamental é que haja compreensão e diálogo. A melhor forma de cuidar do idoso é dar-lhe apoio afetivo e emocional e fomentar sentimentos de confiança, aceitação e dignidade. Isso fará muito mais do que pode imaginar pelo equilíbrio emocional e cognitivo do seu pai ou mãe.



4 - Vou passar menos tempo com a minha mãe

É óbvio que vai passar menos tempo com o idoso se ele vivia consigo (ou perto de si) antes de ir para o lar. Aliás, a frequência das visitas em lar pode ser condicionada por vários factores, entre os quais a distância geográfica e a falta de tempo devido a compromissos pessoais ou profissionais. Por exemplo, atualmente as visitas em lar estão desaconselhadas devido à situação pandémica causada pela Covid-19. 



Mais importante do que a quantidade de tempo que passa com o idoso, é a qualidade. Transforme o tempo da visita em lar num acontecimento inesquecível.



Lembre-se de que o lar é uma estrutura onde todas as necessidades do idoso estão acauteladas, pelo que o tempo que dispõe com ele pode ser totalmente dedicado aos afetos. A maior parte dos lares são flexíveis ao ponto de facilitarem momentos de partilha durante a hora da refeição e dos tempos-livres. Aproveite que está mais disponível para criar novas memórias e aprofundar a sua relação com o idoso nesta nova fase da sua vida.



5 - Estou a contribuir para que se sinta abandonada

O seu pai ou mãe só se sentirá abandonado se for esquecido ou ignorado após a entrada no lar. Por muito difícil que seja a adaptação à vida em lar, o idoso habitua-se mais facilmente às novas rotinas do que a uma realidade em que deixa de ter contato com os seus entes queridos.



Faça-se sentir presente na vida do seu pai ou mãe e assegure-se de que ele sente que pode continuar a contar com o conforto da sua presença.



Deve utilizar todos os meios ao seu alcance para se manter em contato com o idoso. Visitá-lo com regularidade, se possível, telefonar-lhe diariamente e enviar-lhe alguns mimos de quando em vez pelo correio (roupa, bolachinhas, chocolates) é quanto basta para afastar a ideia de abandono.


Talvez nunca se livre completamente da culpa que sente por ter optado por colocar o seu familiar idoso num lar. No entanto, não deve encarar o lar como a última solução, mas sim como a melhor solução. Este é só mais um passo na vida do seu pai ou mãe idosos e não o último adeus.


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