Motivação: o potencial oculto dos profissionais em lares de idosos

Por Sónia Domingues , 09 de Julho de 2021 Profissionais


O profissional que trabalha em lares de idosos depara-se com desafios que não são comuns. Tem de construir uma relação com os idosos e cuidar deles com respeito, dignidade e ética profissional. É uma atividade muito exigente, que abarca um grande desgaste emocional. 


A responsabilidade de cuidar de pessoas com alguma dependência agasta os profissionais que trabalham em lares.



O compromisso destes profissionais para com os idosos é rigoroso, uma missão que foi levada ao extremo com o advento da pandemia, provocada pela Covid-19. As equipas foram divididas por turnos, obrigadas a utilizar equipamento especializado 24 horas por dia e eram as únicas pessoas que podiam contactar com os idosos, o que lhes exigiu ainda mais emocionalmente. A responsabilidade e sobrecarga a que estes profissionais foram sujeitos foi ainda maior, dado que deles dependia em parte que o vírus não fosse transportado para o interior dos lares. 


Isto reflete-se no estado de saúde de muitos profissionais dos lares: stress, ansiedade, problemas musculares, cansaço, dores de cabeça, distúrbios de sono ou mesmo depressão.



Pela exigência que o trabalho em lares impõe, torna-se desafiante conseguir manter a equipa de profissionais coesa com a moral em alta. Mas existem recursos, como a motivação, que podem ser utilizados para que os profissionais continuem bem mentalmente para manter o nível de exigência que o cuidado na terceira idade requer.



Como motivar os seus profissionais?


O coping, cuja palavra não tem tradução literal para português, mas que indica algo como «lidar com» ou «adaptar-se a», significa que os profissionais acabam por adotar estratégias, algumas vezes inconscientemente, para conseguir diminuir os níveis de stress que determinada situação provoca. 

Algumas estratégias passam por ações que o profissional toma para a resolução direta do problema, outras vezes passam por ações para conseguirem atenuar as emoções sentidas. As estratégias de coping positivas que o profissional pode recorrer podem passar por ouvir música, praticar uma atividade física relaxante ou simplesmente fazer caminhadas.


Uma simples conversa pode ajudar à motivação dos seus profissionais, mas consoante o caso pode ser necessário aceder a algum tipo de apoio, como psicologia.



Outras estratégias apontam para que o profissional procure apoio social. Se tem sucesso nas estratégias adotadas, o nível de stress reduz, no entanto, se as estratégias forem ineficazes, o stress mantém-se. O profissional deve evitar recorrer a estratégias de coping negativas, como o consumo de álcool em excesso, a auto-medicação ou uma alimentação desequilibrada.

Estas estratégias negativas poderão ser benéficas a curto prazo, diminuindo o nível de stress que o profissional sente. No entanto, a médio e longo prazo, serão com certeza uma fonte de problemas, como dependência ou obesidade.



Motivação forma equipas eficazes


Pela exigência que o trabalho requer, existem algumas técnicas utilizadas por profissionais de outras áreas que também se aplicam às equipas que trabalham em lares de idosos:


  • Recompensa individualizada - encontrar aquilo que motiva aquele profissional em particular, seja validação, reconhecimento pessoal, ou mesmo um pequeno prémio ou presente.
  • O diálogo é fundamental para que o colaborador de lares se sinta compreendido. Manter as portas abertas para que o colaborador possa expressar-se livremente é crucial para que este se sinta valorizado.
  • Incentive a libertação de tensão no tempo livre, estimulando a prática de exercício físico, caminhadas ao ar livre, ou alguma prática que estimule o relaxamento e a boa posição postural, como o Pilates e o Ioga. Há empresas que, como estímulo, têm acordos com ginásios, para dar um determinado desconto na mensalidade.


    Equilíbrio de vida familiar/profissional é crucial


    Já lá vão os tempos em que, quanto mais horas o colaborador trabalhasse, mais era olhado com admiração pelos superiores. Agora, existe cada vez mais um entendimento em que se deve respeitar o tempo de descanso do funcionário. Não permitir que este esteja constantemente a fazer horas extraordinárias e a trabalhar demais é velar pelo bem-estar do profissional e, por conseguinte, da empresa. Para trabalhar com uma franja da sociedade mais frágil, como são os idosos, é elementar que o colaborador não entre em burnout, sob pena de criar um distanciamento e alguma indiferença perante o idoso. 

    O tempo passado em família é considerado muito positivo, uma vez que o profissional fala com as pessoas que lhe estão mais próximas, acabando por libertar algumas energias menos positivas. É um tempo recompensador para o colaborador, que regressa aos lares com maior disposição e paciência, e com mais energia. 


    Como manter a equipa motivada


    Manter a equipa que trabalha no lar de idosos moralizada e unida é um desafio constante, tanto mais que, com a pandemia, muitos lares optaram por dividir as equipas para trabalharem por turnos alternados. Mas para tudo há solução. Recorrendo às estratégias certas, poderemos encontrar o equilíbrio certo.


    • Uma remuneração justa e adequada às funções é a base de uma equipa moralizada e feliz. 
    • Trabalho equitativo e bem distribuído mantém as equipas coesas. Caso não seja assim, a equipa poderá fraturar-se e entrar em conflito.
    • Garantir folgas que permitam aos membros da equipa dois dias consecutivos de descanso semanal.
    • Possibilidade de os membros da equipa acederem a consultas grátis/a custos reduzidos e anónimas de psicologia é um grande benefício que já muitas empresas promovem junto dos funcionários, sobretudo juntos dos profissionais que vivenciam um grande desgaste emocional.
    • Promover novas experiências em grupo, com as chefias incluídas, o chamado «teambuilding», também produz efeitos muito positivos nos membros da equipa.
    • Fazer reuniões periódicas com toda a equipa para alinhar estratégias e relembrar os seus propósitos e objetivos, garantindo a participação ativa dos profissionais.
    • Garantir formação contínua aos membros da equipa para que os colaboradores sintam que estão a evoluir e se mantenham atualizados.
    • Entender o perfil diferenciado de cada membro da equipa, desde o auxiliar ao terapeuta, assegurar que tenham funções adequadas e equilibradas, mas garantir que todos se sintam igualmente importantes na cadeia de apoio aos idosos.



    Motivação resulta em melhores profissionais


    Manter a motivação moral elevada da equipa de profissionais do lar é uma temática que deve estar no topo das prioridades de direção técnica do estabelecimento, sob pena de se entrar em desequilíbrio e despoletar conflitos entre os profissionais. E, se a equipa não estiver moralizada e motivada, não irá manter o nível de qualidade no atendimento ao idoso. É, por isso, fundamental que a liderança tenha um empenhamento constante em cuidar habilmente da sua equipa, para que os lares mantenham o nível exigente que o cuidado ao idoso determina.


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