Covid-19, gripe e Inverno: os três pilares da incerteza

Por Joana Marques , 23 de Outubro de 2020 Idosos



A partir do momento em que a Covid-19 passou a ser considerada uma pandemia, o mundo ficou do avesso. Ainda o país estava em confinamento forçado e já se falava do impacto psicológico do isolamento e distanciamento que iriam travar a progressão do vírus. 


Com a aproximação do inverno e sem que exista uma cura ou vacina, os sentimentos de medo e incerteza vão-se intensificar, em especial entre os idosos.



O desconfinamento e a aproximação do Verão foram pequenos balões de oxigénio contra a claustrofobia física e mental em que muitos se encontravam. As perspetivas mais otimistas faziam prever o reatar de relações familiares que tinham sido abruptamente cortadas.


O Verão veio e foi, mas o vírus ficou, tal como o medo e a ansiedade. No entanto, qual será o maior dos medos: o do vírus ou o da incerteza? 



Toda a conjuntura que o país atravessa é inesperada e este será o primeiro inverno em que os idosos terão de lidar com várias ameaças em simultâneo: a Covid-19 e a gripe. O futuro é incerto e é imperativo acompanhar os mais velhos nesta fase em que o «vírus da incerteza» pode disseminar-se tão ou mais depressa do que o novo coronavírus.


Recomenda-se a observação regular do estado emocional dos idosos e a partilha de dúvidas, medos e dificuldades, sempre de forma afetuosa.



A ansiedade provocada pela incerteza pode manifestar-se física ou psicologicamente. São frequentes sintomas como dificuldade em dormir, desorientação, dificuldades de concentração, taquicardia, tonturas, dores de cabeça e dores musculares. Nesta fase, a observação do comportamento emocional e físico do idoso é fundamental, pois alguns dos sintomas relacionados com a ansiedade podem igualmente ser sintomas atípicos da Covid-19.

Leia este guia de quatro passos para saber como pode ajudar o idoso a viver com a incerteza, que se não for bem gerida pode levar a níveis de ansiedade extremos e ao agravamento do estado de saúde.



 Normalize o sentimento de incerteza


A incerteza pode ser assustadora e é um dos medos mais universais, porque mesmo o mais audaz dos indivíduos evita a sensação desagradável de perder o controlo sobre o que o rodeia. Atualmente, devido à crise pandémica, todos vivemos numa realidade de incertezas e somos constantemente confrontados com uma situação imprevisível, o que pode ser fonte de grande ansiedade. 


Os idosos são muito suscetíveis a alterações abruptas nas suas rotinas. Não saber o que vai acontecer devido à pandemia causa uma dose extra de ansiedade.



O envelhecimento por si só já é uma fonte de ansiedade, porque o idoso tem de se adaptar a uma série de novas realidades que podem causar frustração e angústia, de que são exemplo a perda de autonomia e independência, a solidão e o declínio da saúde. 


Esta crise veio exacerbar os piores medos dos idosos, que precisam de orientação para aceitar que não há mal nenhum em ter medo.



O primeiro passo para ajudar o idoso a lidar com a incerteza é explicar-lhe que este é um sentimento normal dadas as circunstâncias. Diga-lhe que partilham os mesmos receios e que não existe uma forma certa ou errada de reagir a uma crise em tempo de pandemia

A incerteza faz parte da vida e vão sempre existir imprevistos. Incentive o idoso a incorporar as medidas preventivas da Covid-19 na rotina diária e lembre-o com frequência de que o mais importante é a forma como ele lida com a adversidade. Esta abordagem terá que ser ligeiramente diferente se o idoso sofrer de demência.



Mantenha a esperança


Numa situação de crise, não há previsibilidade em relação ao que há de vir, que se afigura assustador quando o cenário é de ameaça. Enquanto grupo de risco, os idosos sentem-se particularmente frágeis e vulneráveis à Covid-19 e o pior que pode acontecer é perder a esperança, essa força motriz que nos leva a esperar por um futuro melhor.


A incerteza pode levar a sentimentos de vazio interior e à crença de que a vida não tem valor, especialmente numa situação em que os idosos estão privados de afetos físicos. 



A desesperança alimenta-se dos medos e tem de ser contrariada. O segundo passo para ajudar o idoso a viver com a incerteza é conversar com ele sobre outras situações difíceis do seu passado, que foi capaz de ultrapassar. Face ao imprevisível, a fé pode ser um aliado poderoso. Acreditar que vai ficar tudo bem pode ser uma forma de devolver ao idoso algum controlo sobre a incerteza. 


Ajude-o a relativizar a Covid-19 através da crença de que a capacidade de superação já demonstrada tornou o idoso mais forte e capaz para lidar com esta pandemia.



Ter esperança tranquiliza o idoso e dá-lhe confiança para manter as rotinas diárias, que são estruturantes e algo que ele consegue efetivamente controlar. Seja em casa ou no lar, é muito importante que algumas coisas se mantenham constantes, como os horários, o contato com a família e amigos e os momentos de relaxamento e descontração. O que é constante é confortável e atua como estímulo, proporciona força e tranquilidade e contrabalança a ansiedade desencadeada pela Covid-19.



Ajude os idosos a concentrarem-se no agora


Em muito pouco tempo, os idosos tiveram que se adaptar a um modo de vida assente no distanciamento e isolamento e nem sempre é fácil gerir o impacto que a pandemia tem na saúde mental. Manter o foco do idoso no momento presente pode, portanto, diminuir este tipo de sentimentos.


Neste cenário de crise, a incerteza gera um tipo específico de ansiedade, diferente do que emerge dos medos que não têm fundamento real.



Esta crise é real, está a ser vivida pelo idoso, que tem medo de ser infetado e morrer e tem medo que o mesmo aconteça com os seus familiares e amigos. Enquanto não existir uma cura ou uma vacina, é impossível antecipar o fim da pandemia, pelo que até lá o terceiro passo para ajudar o idoso a viver com a incerteza é incentivá-lo a viver um dia de cada vez.


Ao estar concentrado no que está a fazer a cada momento, o idoso evita pensamentos perturbadores e cenários assustadores.



Explique ao idoso que existem coisas que ele pode controlar para se prevenir contra o coronavírus, tais como usar máscara e desinfetante, encarar o distanciamento como uma medida temporária, mas necessária, e fazer aquilo de que gosta (ler, ouvir música, fazer palavras-cruzadas, exercitar-se ou manter o contato com a família através das novas tecnologias).



Construa e mantenha sempre a confiança


Ajudar o idoso a viver com a incerteza é um processo de partilha e confiança. Para aceitar a incerteza, manter a esperança e ter capacidade para apreciar o momento presente exige confiança em si próprio, nos que o rodeiam e no futuro.


Quando o idoso é incentivado a aceitar a incerteza, também está a ser confrontado com a aceitação das suas fragilidades e vulnerabilidades.



Durante esta crise pandémica, o idoso precisa de sentir alguma solidez e ter uma real sensação de segurança e proteção, seja ela física ou emocional. Isto significa que este quarto passo é crucial para a concretização de todos os outros. 


O idoso precisa de sentir que está tudo a ser feito para o proteger do vírus e que a sua rede de suporte é honesta e de confiança.



Os tempos são difíceis, cuidadores formais e informais têm pouca disponibilidade para passar tempo de qualidade com os idosos e facilmente se pode instalar uma sensação de abandono. Não deixe que isto aconteça, porque um idoso desamparado é um idoso que se sente desprotegido e desvalorizado, exatamente o contrário do que se pretende que ele sinta neste momento.


Deve manter sempre uma atitude positiva, mesmo que não se sinta muito otimista, e de não julgamento, por muito disparatados que lhe pareçam os medos do idoso.



Os mais velhos precisam de sentir que podem confiar nas instituições e nos cuidados de saúde. Converse com o idoso e pensem em conjunto potenciais cenários caso ele contraia o vírus. Filtre a informação e não o deixe alimentar os seus medos através de boatos e distorções. É importante que o idoso se mantenha informado sobre a situação da Covid-19, mas sem exageros, porque uma exposição excessiva ao tema pode desencadear sentimentos de desconfiança, descrença, medo e ansiedade.



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