Arte e fotografia na vida dos idosos

Por Catarina Bouca , 09 de Setembro de 2019 Idosos



​​A fotografia tem um impacto enorme na cultura de cada comunidade e na vida de cada cidadão. Os idosos não são exceção deste fenómeno.

A fotografia tem o poder incrível de transmitir uma mensagem sem palavras, de eternizar momentos. Demora um segundo a ser captada e tem uma esperança de vida incalculável. Com uma fotografia, conseguimos recordar pessoas, momentos, objetos, animais, entre outra infinidade de opções. Tudo isto à distância de um clique, e é por isso que é considerada uma das melhores invenções da história da humanidade. Uma ação simples com um impacto sem precedentes.

Podemos associar a fotografia a qualquer assunto. E, mesmo que não seja das associações mais comuns, existe quem se dedique a fotografar idosos. É o caso de Sandra Ventura, uma fotógrafa portuguesa com uma atividade profissional muito particular.


Sandra ‘abraçou’ a fotografia à terceira idade


A vida de Sandra Ventura não é muito diferente de outra mulher casada da sua idade, dona de casa e profissional. Não fosse o caso de o seu trabalho ser fora do comum: percorre o país todo a fotografar idosos em centros de dia e lares de idosos. No final, vem para casa com os ‘bolsos’ cheios ou vazios, dependente se os familiares dos idosos fotografados quiserem ou não ficar com as fotografias por si assinadas.





Confessa que ressente a indiferença dos familiares dos idosos perante o seu trabalho e não tem dúvidas de que ganharia mais dinheiro se a sua vida fosse fotografar ‘meninos’ na escola. 


«Alguns familiares chegam mesmo a pensar que só vale a pena comprar uma fotografia do seu idoso se esta se destinar a ser colocada na campa».

Para Sandra, trabalhar com idosos é ‘diferente’. A fotógrafa sente que junto da população idosa faz muito mais do que apenas fotografar. «Dou-lhes a atenção e o tempo de antena de que necessitam», refere. Para isso, estipulou para si própria uma regra: uma instituição por dia, não mais do que isso. Assume que só assim consigo ter tempo e calma para escutar atentamente a história de cada idoso.



Fotografar idosos e ouvir histórias


 A fotógrafa sénior, categoria profissional pela qual é conhecida, recorda que uma vez, em Barrancos, trabalhou com uma idosa que estava de luto e trazia a cabeça tapada por um lenço preto. Pediu-lhe que tirasse o lenço para a fotografar. Com muita relutância, a senhora aceitou, mas pôs como condição ser fotografada com a fotografia do seu falecido filho ao colo. E assim foi.

No final da sessão, Sandra disse-lhe: «A senhora está tão bonita, está mais leve, o seu filho ia preferir vê-la assim. Acabou por ficar o dia todo sem lenço. Eu estava a fotografar e as lágrimas escorriam-me pela cara, porque aquela senhora foi uma das enlutadas mais tristes que fotografei e não me saiu da cabeça», conta.



Casal de idosos fotografados por Sandra



Sandra recorda ainda uma bonita história de amor entre um casal de idosos«A senhora estava a arranjar-se enquanto eu ia tirando fotografias ao marido que sofria de alzheimer. De repente, ele diz-me: Eu não posso estar aqui porque a minha mulher não está e eu tenho de estar com ela sempre. E eu explicava-lhe que ela já vinha juntar-se à nossa sessão fotográfica.

O senhor estava completamente perdido e só queria estar com a mulher. Este episódio marcou-me porque os anos passam e há coisas que ficam, como o amor, apesar do Alzheimer.»


«É muito difícil ser velho em Portugal e tenho pena de envelhecer neste país. Muitos idosos não têm as condições necessárias para viver dignamente. Há muitos lares em que a animação sociocultural simplesmente não existe, e os idosos passam o dia em frente à televisão num cadeirão» ​alerta Sandra Ventura, em tom de descontentamento.

Fonte: MAGG



​Os idosos, os Deuses Míticos e a fusão com a natureza

Passamos dos traços bem vincados e típicos da cultura portuguesa para a excentricidade e leveza dos rostos nórdicos.

A artista finlandesa Riitta Ikonen juntou-se à fotógrafa norueguesa Karoline Hjorth para conceber o projeto artístico «Eyes as Big as Places». Oito anos de trabalho conjunto resultaram num fantástico livro de fotografias que tomou como título o nome do projeto pelas duas desenvolvido.


«Eyes as Big as Places»




​O itinerário do projeto passou por locais como a Gronelândia, o Japão, os Estados Unidos, África e América do Sul, entre outros. E as personagens que habitam as fotografias são idosos locais que, após uma produção muito bem feita, se transformam em Deuses míticos e em criaturas orgânicas.

As duas artistas referem que a sua abordagem aos idosos que figuram no livro é quase sempre feita com grande espontaneidade e intuição.




​«Podemos estar numa ópera em Paris e reparar numa senhora idosa que fica a dançar no palco depois do espetáculo acabar. Nessa altura, pensamos: ‘Que interessante seria conhecermos esta pessoa?’  E então aproximamo-nos da pessoa e perguntamos-lhe: ‘Quem é a senhora e o que faz amanhã?'»





​Ikonen sugere que as fotografias que fazem parte do livro são uma alusão poética à vida após a morte e a um retorno do homem à natureza. «Talvez seja a fantasia de sermos parte da natureza, um momento em que o cérebro humano consegue ver que pode ser parte da natureza», descreve. 

«Eyes as Big as Places»

De acordo com as duas artistas, «Eyes as Big as Places» é um projeto profundamente afirmativo da vida na sua dimensão humana, através das fotografias dos idosos, e na dimensão da natureza. 

A importância de projetos criativos na vida dos idosos

Falar sobre idosos muitas vezes é falar sobre incapacidade, apatia, ineptidão. Um tema que ainda é considerado um tabu, tendo em conta que pode culminar no assunto temido: a morte. Tudo isto continua a ser uma realidade.

​Numa idade em que as limitações, tanto físicas como psicológicas, passam a imperar, é necessário estimular a vida dos idosos com iniciativas que quebrem a sua rotina. A idade sénior é uma fase que merece ser vivida com graciosidade. Projetos como os descritos acima devem ser o mote para um futuro próximo onde a velhice será encarada como um estado de vida repleto de movimento, dignidade e, acima de tudo, felicidade.

Fonte: CNN style


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