As rotinas flexíveis que atraem idosos mais autónomos em lar

Por Sónia Domingues , 23 de Fevereiro de 2024 Profissionais


A rotina restrita de horários é uma característica comum a muitos lares de idosos, que se prende com a organização e gestão das diversas funções diárias, como as refeições, higiene e cuidados de saúde e enfermagem. Sendo compreensível esta opção pelo rigor de horários e rotinas, acaba por representar um entrave à entrada de idosos mais autónomos nas instituições.

A vivência do idoso em habitação própria confere uma rotina muito característica que combina a individualidade e peculiaridade própria de um idoso, que faz as mesmas coisas naqueles determinados horários, na sua zona de conforto.

No lar de idosos é necessária uma certa organização e planeamento para que todos os residentes recebam os cuidados necessários. Contudo, existem alguns elementos que se podem alterar para encontrar o equilíbrio perfeito entre uma organização funcional e a flexibilidade que garante a autonomia e autodeterminação do idoso. Esta é uma característica que permite que os residentes se sintam mais confortáveis na residência e que podem conquistar as famílias no momento da procura de uma solução em lar. Na realidade, a falta de flexibilidade e a imposição de uma rotina rígida já não atrai as famílias exigentes de hoje em dia, que procuram um lar que garanta uma maior liberdade e autonomia nos hábitos dos idosos e da realização de visitas, sem impor uma rotina persistente, como noutros tempos.

​Neste artigo, vamos explicar como pode criar uma fluência equilibrada entre a preservação da autonomia do idoso e a organização e distribuição dos serviços no seu lar de idosos.



Em que elementos o lar de idosos pode ser flexível?


A promoção de uma experiência positiva para os idosos é conseguida através do equilíbrio entre vários elementos, como a equipa profissional, os serviços médicos e de enfermagem de qualidade, uma boa chefia e alimentação cuidada, entre outros. Mas a flexibilidade de rotinas é também fundamental para garantir o respeito pela vontade dos idosos e para que não se sintam obrigados a seguir uma rotina e horários que não lhes convém, ao mesmo tempo que a residência mantém a organização dos serviços que é tão necessária para o bom funcionamento destas estruturas.

Existem diversos elementos que suportam a adaptação dos idosos quando ingressam em lar, sem criar entropias na dinâmica organizacional do lar.



Preferência no horário de despertar

Uma das rotinas que pode ser adaptada é o horário a que o idoso prefere despertar e deitar. É possível compatibilizar a sua auto-determinação, sem criar uma fragmentação no trabalho dos auxiliares. É exequível a criação de uma escala flexível onde o auxiliar trata primeiro dos idosos que preferem acordar mais cedo, por exemplo, e vai seguindo até ao idosos que preferem dormir até tarde. Estas alterações na dinâmica do lar, pese embora a necessidade de um tempo de adaptação, representam uma maior satisfação do residente e das famílias e criam menor resistência aos auxiliares. De facto, é provável que o ambiente matinal na residência sénior melhore substancialmente.


Exigências associadas à higiene pessoal do idoso

Não colocando em causa a obrigatoriedade e regularidade da rotina de higiene, o auxiliar deve respeitar algumas condições que o idoso pode requerer. O cuidado pessoal e a higiene são, em todas as pessoas, hábitos que ficam connosco e, para que o idoso se sinta melhor, o lar pode responder a alguns pedidos do idoso que se relacionam com a intimidade do residente, sem comprometer a dignidade do idoso. A utilização dos produtos a que está habituado, o penteado de cabelo que gosta, a utilização do seu perfume favorito, são alguns dos pedidos que os idosos mais fazem.

O método Humanitude, que representa a flexibilidade e acomodação destas duas vertentes, já é praticado em muitos lares e tem vindo a obter bons resultados, diminuindo a resistência e agressividade dos idosos.


Compreender as preferências alimentares

Sendo que se compreende que nem todos os lares têm dimensão ou orçamento para acomodar diferentes opções de refeições ao almoço e ao jantar, é relevante saber quais os pratos preferidos dos residentes do lar e os alimentos de que não gostam. Os idosos podem também colaborar na elaboração dos menus semanais, com sugestões de pratos e de sobremesas, ou que possam escolher entre duas opções. A discussão do menu semanal poderá ser até uma atividade programada, conferindo aos residentes um sentimento de pertença e utilidade à comunidade. Nas pequenas refeições, muitos lares já acomodam opções flexíveis que vão de encontro aos gostos do idoso, como a opção entre pão ou bolacha, doce ou salgado, assim como diferentes opções de fruta.


Horário das visitas cada vez menos restritivo

Sendo que o horário de visitas já é liberal em muitos lares, deveria constituir regra a abertura das residências às famílias e demais visitas. Os lares podem flexibilizar a presença das visitas em vários horários e espaços, como nos quartos, se assim for permitido pelos outros residentes da habitação, em caso de quarto partilhado. Os horários devem ser livres ou flexíveis, deixando às famílias o ónus da responsabilidade de visitar o residente sempre que puderem.


Saídas facilitadas a residentes mais autónomos

Quando o idoso é autónomo, o lar de idosos deve possibilitar ao residente ter a liberdade de sair do perímetro do equipamento, sem que tenha que passar por burocracias e permissões da família. De resto, a ideia de que o lar é uma “prisão” deve ser amplamente desmistificada, não colocando, como é óbvio, a segurança dos residentes em causa. Quando o idoso está nas suas plenas faculdades, não deve ser colocado nenhum entrave ou demasiada burocracia entre ele e as portas do lar.

A liberdade dos idosos mais autónomos não precisa de ser colocada em causa, até para que mantenham a sua saúde mental!


Respeitar a vontade de participar

Os idosos têm o direito de recusar participar em atividades organizadas pelo lar e o livre arbítrio do residente deve ser respeitado. Apesar da participação não ser obrigatória, os lares por vezes insistem que o idoso participe, para que socialize com os outros residentes. Em vez de insistir com o idoso para participar numa atividade, o lar deve perceber o porquê do idoso não querer envolver-se na atividade. Esta será uma oportunidade para que as instituições analisem o comportamento dos seus residentes e, se possível, repensarem o plano de atividade para que vá de encontro com os gostos e preferências de todos.


​Possibilidade de estar em espaços de silêncio

Os espaços comuns dos lares de idosos, habitualmente reúnem muita da população residente e o barulho pode ser constante, com a movimentação animada de auxiliares e idosos. No entanto, os idosos devem ter uma alternativa flexível em que não estão sempre rodeados de barulho, mas que não seja propriamente o quarto. Uma biblioteca ou espaço de leitura são exemplos viáveis para os residentes que procuram a tranquilidade e o conforto na instituição sem a presença de ruído sonoro e são espaços ideais para incentivar os idosos ao hábito saudável da leitura.

A possibilidade do lar ter um espaço mais reservado que ofereça aos residentes uma outra escolha é muito importante e assegura a adequação da residência sénior à recomendação vertida na alteração às normas que regem a abertura e funcionamento destas estruturas.


Flexibilidade: um dos princípios de atuação dos lares segundo a nova lei


​A flexibilidade nas rotinas dos idosos que vivem no lar é fundamental para garantir o livre-arbítrio dos residentes e autonomia, como está descrito nos princípios de atuação dos lares, na recente alteração às normas sobre o funcionamento das instituições de cuidados a idosos. No entanto, num lar de idosos em que se tem de coordenar a função de dezenas de auxiliares, com as vontades e gostos de dezenas de idosos, é evidente que não será uma tarefa fácil e exige, por vezes, a reorganização dos serviços para prestar o melhor cuidado a todos os residentes. 

Ao adaptar novas metodologias de trabalho para acolher os gostos e hábitos dos idosos, não só garante inúmeras vantagens para os residentes, como também para o lar, porque alivia a resistência dos idosos a receber determinados cuidados e serviços prestados pelos auxiliares. A flexibilização da rotina dentro dos lares de idosos tem consequências positivas no dia a dia de cada residente e também na sua qualidade de vida como um todo. 

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