Vida ativa em lar: Maria da Luz Tiago

Por Sónia Domingues , 13 de Outubro de 2021 Idosos


Nascida a 22 de fevereiro de 1920, na aldeia de Santa Bárbara de Nexe, concelho de Faro, Maria da Luz Tiago vive há já cinco anos na Residência Sénior Domus Aurea, em Sintra. Nascida e criada em Faro, Maria da Luz dividia a sua vida entre a costura com a mãe e apoio administrativo num gabinete de medicina. Após o falecimento da mãe, foi viver para Lisboa, onde trabalhava num atelier de costura, casou e teve um filho.

Infelizmente esse filho veio a falecer com 54 anos, e o seu marido também faleceu aos 70 anos. Viúva, ficou com única família de retaguarda a nora e um neto. E, se primeiro resistiu à ideia do neto de morar num lar, agora não trocava «nem por nada» a vida na residência sénior, onde tem vindo a aprofundar a sua poesia, tendo até escrito um livro para o neto…



Estava doente... não podia estar sozinha


Como foi parar ao lar onde vive?

Sra Maria da Luz Tiago: Acontece que fomos [com o neto] passar um mês na praia e que vim da praia doente. A coisa correu bem, fomos ao Algarve e no dia que vínhamos de volta, comecei a vomitar, muito aflita muito maldisposta e quando o meu neto vinha-me levar (eu tinha a minha casa, a minha nora tinha a dela e ele tinha a dele), ele disse-me que não me podia deixar assim sozinha.

​Ele disse-me «Não, não vai assim para casa doente», mas eu queria ir! Porque eu tinha muita gente que vinha a minha casa, tinha muitas amigas, mas acabei por ficar três meses na casa do meu neto, em Lisboa. E então, começou logo a pensar em escolher um lar… Mas eu não queria nada! ​Então, este foi o primeiro lar que vim e já cá estou há cinco anos e até à data estou muito satisfeita em estar aqui!

Eu não queria nada ir para um lar. Agora, passados 5 anos, não trocava «nem por nada». Estou muito satisfeita!



Como passa os seus dias, no lar?

Sra Maria da Luz Tiago: Vivo diariamente no lar. As férias passo-as com a  minha família, eles vêm cá para as visitas, e tenho ainda muita família, sobrinhos e primas, e muito amigas, mas sinto-me aqui bem. É aqui que me sinto bem, brinco com as empregadas, fico animada e elas riem-se também!


Às vezes estou triste porque, enfim, lembro-me da família, e do meu filho, e essas coisas tristes. Mas eu não quero estar triste, quero-me animar a mim próprio, e brinco com as empregadas, elas fartam-se de rir comigo. Fico animada, e elas riem-se também. Eu sou alegre!



A descoberta do que era melhor para si


Quais são as diferenças entre estar em casa ou no lar?

Sra Maria da Luz Tiago: Claro que aqui é diferente. Em casa caí duas vezes, vi-me aflita para me levantar e não tinha quem me acudisse. Aqui, já estive muito mal, engoli uma coisa que não foi para o sítio devido e fui levada para o hospital, e estive de cama três semanas.​ Tratam-me bem, elas [as empregadas] são carinhosas, são amigas de brincar e é um lar muito asseado, um lar muito bom, para mim, digo-lhe, é um lar ótimo!

Num lar, se estamos mal, há logo quem nos acuda. Sozinha em casa, é completamente diferente. Se saísse daqui, já estranhava. É a minha casa, sinto-me à vontade, fazem limpeza duas, três vezes por dia…


Mas, aqui se estamos mal, há logo quem nos acuda. Se a gente está no quarto, toca a campainha e vem logo uma pessoa… Agora em casa sozinha é completamente diferente. E depressa eu descobri, quando vim, compreendi que estava bem melhor aqui do que em casa.  O meu neto empregado, a pequena empregada, vinham à noite… e eu aqui estou melhor, muito melhor. 



Tem um quarto partilhado ou está sozinha?

Sra Maria da Luz Tiago: No quarto somos duas, estamos à vontade, cada uma tem as suas coisas. A comodazinha, a gente arruma, tem lá as nossas coisinhas, a nossa roupa, tem o roupeiro e tem tudo e a gente dá-se bem. É uma senhora com muita educação, foi isso que aminha mãe me deu a mim e aminha irmã, de maneiras que me sinto-me aqui muito bem.


Com a pandemia, teve medo?

Sra Maria da Luz Tiago: Medo não tive, mas tenho é pena daquilo que tem acontecido, tanta morte, fica uma pessoa triste… tem sido uma coisa sem explicação… Eu, com a idade que tenho, nunca vi uma coisa assim!

Maria da Luz, no jardim da instituição onde reside



A necessidade de convívio e a motivação


Quanto a atividades, o que faz no lar?

Sra Maria da Luz Tiago: Olhe, convive-se uns com os outros, há pessoas mais caladas, mas eu gosto de falar [risos] e escrevo versos, gosto muito de escrever… Até já fiz um livro, não tenho editora, mas fiz o livro para oferecer ao meu neto, para ter uma recordação para a vida toda. Mas escrever, continuo a escrever! Tenho feito versos aqui para pendurar nas paredes, quando as empregadas fazem anos…

Convive-se uns com os outros, escrevo versos, continuo a escrever porque gosto muito… até já fiz um livro, para oferecer ao meu neto.


Aqui, quando há festas no lar, enfeita-se tudo e faz-se muitos trabalhos manuais e eu tenho ajudado sempre a fazer tudo, só agora é que não, porque ceguei duma vista um anos antes de ir para o lar, e da outra tenho uma catarata e a vista vai piorando, piorando, mas mesmo assim tenho ajudado em tudo, só agora há pouco tempo é que há trabalhos que já me custam…

Portanto, eu sinto-me aqui bem, já me fizeram festas, já veio aqui a televisão e fizeram-me uma entrevista e eu já escrevi versos que foram publicados! Que chegaram à França, à América e a vários lados! Uma senhora conhecia o meu neto, e a senhora viu o meu nome e ligou ao meu neto: «Olhe, vieram aqui os versos da sua avó!».



E sabe algum poema de cor?

Sra Maria da Luz Tiago: Vou só dizer-lhe dois pequeninos:

«Que Deus me dê sempre a luz 

Até ao dia final

Ele a todos nos conduz,

Eu nasci em Portugal»


«Amar, a terra, o mar

O sol, as estrelas e a luz

E à noite ao luar,

Agradeçam a Jesus»



O segredo


Agora, como encara a vida?

Sra Maria da Luz Tiago: Ah com a idade que eu tenho, já não posso esperar muito. Eu sou doente, tenho doenças crónicas, já fiz operações, mas tenho tido resistência para tudo! Porque não gosto de me meter na cama… Eu estou doente uns dias e daí a um pouco já estou levantada! Uma vez entrei no hospital e o médico disse: “a senhora não se pode levantar da cama”, era véspera de natal… E eu ouvi as pequenas (as enfermeiras) a dançar e eu levantei-me devagarinho e fui dançar com elas! [risos] 

Eu sempre fui alegre, não gosto da cama! Se eu ficar com um bocadinho de dor de cabeça, encosto-me um bocadinho no sofá, a ouvir música…


Eu gosto muito de música! Olhe, gosto muito do Marco Paulo, adoro! E há muitos que eu já nem me lembro do nome. Há muitos que já morreram, como o Carlos Paião. Olhe, quando eu fiz cem anos, fizeram-me uma grande festa! E eu fiz uns versos, e eles pediram-me uma música, escolhi uma do Carlos Paião e depois, puseram a música a tocar e eu a ler os versos! Mas também gosto da Amália!



E assim foi conhecer a Dona Maria da Luz Tiago, que vive no lar Domus Aurea, em Sintra. A senhora que dá juz ao nome… Pela vivacidade e alegria de viver, estimamos que vá durar ainda muitos e felizes anos nesta residência!



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