Saiba porque a maioria dos lares não tem equipa de 2ª linha

Por Daniel Carvalho , 24 de Março de 2020 Profissionais


Há dois dias, a Ministra da Saúde afirmou que os Lares de Idosos deveriam ter um plano de contingência, onde estivessem previstos profissionais de segunda linha para constituir duas equipas por cada instituição. A ideia é funcionarem em ‘espelho’, de forma a nenhum funcionário ficar física e psicologicamente sobrecarregado.

Estas declarações provêm da situação ocorrida no passado fim-de-semana na Residência Pratinha, em Famalicão. 


Recorde que perto de 10 funcionários acusaram positivo no teste de Covid-19, ficando a equipa de profissionais reduzida a 3 pessoas, incluíndo a Diretora Técnica, que se encontra grávida.

Os profissionais de geriatria do país, após as declarações polémicas da ministra, prontamente mostraram o seu descontentamento aos Órgãos de Comunicação Social, alegando que é impraticável existir uma segunda linha de profissionais.

Quisemos perceber a realidade dos lares de idosos do país relativamente à aconselhada equipa de profissionais de segunda linha. 


Desta feita, enquanto empresa parceira de uma porção muito significativa do universo de lares do país, decidimos criar o formulário: «Existe uma 2ª linha de profissionais nos Lares de Idosos?». A amostra foi de cerca de três centenas de administradores de lares, situados de Norte a Sul do país.

Com as respostas obtidas, é-nos possível retirar conclusões baseadas na realidade vivida nas instituições portuguesas. Cada distrito está representado, no mínimo, por 5 respostas, sendo que distritos como Lisboa e Porto estão representados por quase 70 administradores de lares de idosos.


Resultados do formulário

Antes de demonstrar os resultados à pergunta central do formulário, é importante perceber de que forma se caracterizou a nossa amostra de lares de idosos em Portugal.

Natureza Jurídica do Lar

Natureza Jurídica dos Lares

60% dos lares inquiridos são sem fins lucrativos


Das respostas obtidas, concluímos que não há uma diferença significativa entre os Lares Lucrativos ou não Lucrativos, ou por outras palavras: privados ou sem fins lucrativos. 

Quer isto dizer que as respostas à pergunta: «Existe ou não uma 2ª linha de profissionais nos Lares de Idosos?» abrangem as duas vertentes da Natureza Jurídica dos Lares.


Número de Colaboradores

Número de Colaboradores

Maioria dos lares tem entre 10 e 50 colaboradores


Cerca de 80% das respostas representam instituições que empregam no mínimo 10 colaboradores. Aproximadamente 10% dos lares são instituições com mais de 50 colaboradores. 

Estamos a falar de instituições com capacidade para acolher dezenas de utentes, onde as equipas de profissionais representam grande parte dos encargos financeiros da gestão dos lares.


​Peso aproximado da despesa com colaboradores na gestão financeira do lar

Dois terços gastam mais de 40% do seu orçamento em pessoal


Cerca de 66% das administrações dos lares de idosos inquiridas gasta mais de 40% do orçamento total em despesas com colaboradores. 
Se acrescentarmos as respostas de administradores que afirmam gastar entre 31 e 40% do orçamento com colaboradores, concluímos que cerca de 90% dos lares de idosos gasta pelo menos 30% de todo o seu orçamento em despesas relacionadas com colaboradores, nomeadamente a nível de recrutamento, ordenados, subsídios e seguros de trabalho.


Resposta à pergunta principal: «Existe ou não uma 2ª linha de profissionais nos Lares de Idosos?»

A esmagadora maioria não tem equipa de segunda linha


A esmagadora maioria dos Lares de Idosos não detém uma 2ª linha de profissionais, para sermos precisos: cerca de 84% das respostas totais.

Estes valores justificam o pronto descontentamento dos lares de idosos em relação às palavras do Governo, na pessoa da Ministra da Saúde. De facto, são raras as administrações que têm capacidade para criar uma equipa adicional de profissionais 


Vejamos os principais motivos que impossibilitam este fenómeno:

Motivos: falta de dinheiro e dificuldade em encontrar profissionais


Através destes resultados, concluímos que a medida sugerida pela Ministra da Saúde não corresponde à realidade dos lares de idosos, em Portugal. A maioria não consegue prever uma 2ª linha de profissionais, ainda que se trate de uma situação de emergência à escala global, tal como a que vivemos atualmente.

Outro fator relevante é a questão dos recursos financeiros e da dificuldade em encontrar colaboradores, que constituem os principais entraves à constituição desta 2ª linha. Quer isto dizer que, mesmo que as administrações considerem esta medida benéfica, não existe capacidade financeira nem logística para a sua formação. Não se trata de uma escolha entre ter ou não ter, mas sim uma realidade imposta por um setor onde os gastos com pessoal são representativos, a juntar a ser um setor não muito atrativo para os profissionais.

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