Mitos e equívocos frequentes sobre a Covid-19

Por Joana Marques , 01 de Março de 2021 Idosos


No último ano, a Covid-19 tem sido o principal objeto de estudo da comunidade científica mundial, que trabalha a um ritmo alucinante para o desenvolvimento de tratamentos e vacinas. Ainda assim, ainda existem algumas incógnitas e os investigadores continuam dedicados à compreensão das questões centrais desta pandemia: a transmissibilidade, o grau de mortalidade e imunidade e a eficácia das vacinas.


O mundo está longe de controlar a Covid-19 e enfrenta uma dupla ameaça: a propagação do vírus e a disseminação de informação falsa, que leva à construção de mitos e crenças erradas.



Diariamente somos bombardeados com informação sobre a Covid-19, mas nem tudo o que lemos e ouvimos é verdade. Nem sempre é fácil distinguir entre facto e ficção, especialmente na Internet, que está recheada de mitos sobre o vírus, os possíveis tratamentos e a vacinação.


Leia este artigo para ficar a par dos mitos mais comuns sobre a Covid-19. Esclareça o seu familiar idoso fornecendo-lhe factos e não ficções.



O ideal é que recorra a fontes fidedignas e credíveis, como a Direção-Geral de Saúde, a Organização Mundial de Saúde ou órgãos de comunicação social credenciados. É preciso travar a pandemia da desinformação e desmistificar algumas crenças que impedem o combate eficiente do vírus e às quais os mais idosos são particularmente suscetíveis.



Afinal, como é que se transmite a doença?


A Covid-19 transmite-se pessoa-a-pessoa através do contato próximo com pessoas infetadas ou através do contato com superfícies e objetos contaminados. A transmissão ocorre através de gotículas de saliva ou muco, expelidas pela boca ou narinas quando a pessoa infetada tosse ou espirra. Esta é a razão pela qual se recomenda uma distância de pelo menos 1,5 metros entre as pessoas.


As partículas libertadas pela pessoa infetada podem atingir diretamente a boca, o nariz e os olhos de quem está próximo.



A infeção também pode ocorrer através de transferência de partículas virais após o contato físico com o portador do vírus, de que são exemplo os apertos de mão, os beijos e a partilha de objetos, como copos e talheres. Aliás, objetos e superfícies são veículos de contágio se forem atingidos pelas gotículas: a infeção aqui dá-se por transferência, quando outras pessoas tocam nesses objetos e superfícies e depois tocam nos olhos, nariz ou boca sem antes desinfetar as mãos.



Transmissão: os mitos e as dúvidas mais frequentes


Pessoas sem sintomas não transmitem a doença: MITO

O risco de ser contaminado por uma pessoa sem sintomas é mais baixo, mas existe. A pessoa pode transmitir a infeção cerca de um a dois dias antes do aparecimento dos sintomas, embora a carga viral seja muito superior após o aparecimento dos primeiros sintomas, mesmo que muito leves e atípicos.


A transmissão pode ocorrer através de picadas de mosquitos ou pelo contato com animais domésticos: MITO

Não existe evidência científica que suporte a transmissão através de picadas de insetos e são raros os casos de cães e gatos infectados com a Covid-19, não estando mesmo documentada a transmissão entre animais domésticos e humanos, muito improvável por causa da barreira entre espécies. Aliás, a convivência com animais domésticos é particularmente benéfica para atenuar a solidão dos mais velhos.



Posso ficar infetado por ingerir alimentos contaminados: DUVIDOSO

Não existe qualquer indício de que o vírus possa ser transmitido através da ingestão de comida (crua, cozinhada, embalada, congelada). No entanto, aconselha-se o reforço das medidas de higiene e limpeza das superfícies e utensílios utilizados na preparação de alimentos.



Pessoas que utilizam máscara não podem ser infetadas: DUVIDOSO

A utilização da máscara impede o contato com partículas contaminadas exaladas pela pessoa infectada, mas a máscara apenas protege o nariz e a boca. Os olhos continuam desprotegidos (a não ser que utilize viseira) e a infeção só é prevenida se a máscara for utilizada de forma correta.

Os estudos que avaliam a eficiência da filtragem de diferentes materiais e máscaras são feitos em contexto laboratorial, que não inclui algumas variáveis que existem na vida real: as condições ambientais, a distância entre as pessoas, o tempo de exposição, o tempo durante o qual a máscara é utilizada, se existem brechas entre a pele e o tecido e se é corretamente manuseada quando é colocada e retirada.



Covid-19: os equívocos mais frequentes

Existem muitas comparações equivocadas entre o vírus da gripe e o vírus SARS-Cov-2 que provoca a Covid-19 porque ambos afetam o sistema respiratório e apresentam alguns sintomas parecidos. O vírus da gripe é um velho conhecido, enquanto que a Covid-19 é uma novidade para o nosso sistema imunitário. 

Os especialistas acreditam que com o tempo também o SARS-Cov-2 se transformará num vírus endémico, como o da gripe, gerando surtos sazonais. A Covid-19 nunca pode ser considerada uma gripezinha porque tem uma taxa de mortalidade até três vezes superior à do vírus da gripe. Além disso, é muito mais contagioso.



A infeção por Covid-19 só mata os mais idosos: MITO

Desde o início da pandemia que os idosos foram considerados um grupo de risco devido à fragilidade do sistema imunitário e pela elevada probabilidade de terem condições preexistentes que contribuem para o agravamento do quadro clínico quando se dá a infeção (diabetes, problemas cardíacos, doenças pulmonares). 

É certo que a doença é mais mortal e grave em idosos, em especial a partir dos 80 anos. No entanto, há registo de complicações e mortes em todas as faixas etárias, e mesmo entre pessoas aparentemente saudáveis.



A Covid-19 pode ser combatida com antibióticos: MITO

Os antibióticos só funcionam contra bactérias. Até à data, não existe um medicamento específico para a Covid-19 e o tratamento da infeção tem como principal objetivo aliviar os sintomas. Muitas das hospitalizações justificam-se quando o doente apresenta graves insuficiências respiratórias, muito comuns entre os mais velhos, que necessitam de cuidados especializados (respiração artificial, oxigenação, suporte de vida).



A Covid-19 pode ser curada com as mezinhas da avó: MITO

Não existem evidências de que os remédios caseiros previnem ou curam esta doença. As mezinhas continuam muito enraizadas na sociedade portuguesa, perpetuadas pela transmissão do saber popular, de pais para filhos ou de avós para netos. No entanto, a melhor abordagem para combater a Covid-19 continua a ser o cumprimento das normas instituídas pela DGS: lavagem frequente das mãos, distanciamento social e etiqueta respiratória.

Esta doença não se cura com o consumo de vitamina C, óleos essenciais, alho ou chás.



Os mitos em torno da vacinação


Desde o início a pandemia que o mundo ansiava por uma vacina e os investigadores trabalharam sem cessar até que esse desejo fosse concretizado, no mesmo ano em que o vírus apareceu, o que não deixa de ser um feito extraordinário.


Desejada por todos, assim que se materializou, a vacina contra a Covid-19 tem sido o alvo preferido das notícias falsas.



Os movimentos anti-vacinas não são novos e têm sido inúmeras as inverdades divulgadas nas redes sociais (e posteriormente reproduzidas em conversas com familiares e amigos) sobre as vacinas contra a Covid-19. A mais frequente é que a vacina não é segura, mas também há quem afirme que a vacina altera permanentemente o ADN ou que pode causar a morte.




As vacinas não são seguras: MITO

Muitos dos que esperavam ansiosamente pelas vacinas foram os primeiros a dizer que as mesmas não eram seguras porque não era possível terem sido desenvolvidas eficazmente ao fim de tão pouco tempo. É um facto que as vacinas contra a Covid-19 foram produzidas em tempo recorde, mas isso deve-se ao facto de os investigadores do mundo inteiro se terem concentrado exclusivamente nas pesquisas e de a tecnologia utilizada já ser preexistente.

Todas as vacinas que estão a ser utilizadas em Portugal são seguras porque passaram por diversos processos de validação, em especial da Agência Europeia de Medicamentos, que tem critérios rigorosos no que se refere à aprovação de medicamentos e vacinas.



As vacinas não são indicadas para os idosos: MITO

Os idosos pertencem ao grupo prioritário de vacinação, pelo que é fundamental que os mais velhos não tenham medo da vacina. Aliás, a vacinação dos idosos é o primeiro passo para a normalização da vida deste grupo etário, que tem sofrido muito com o distanciamento de familiares e amigos. É especialmente importante para os idosos que vivem em lares porque contribui para a diminuição do aparecimento de surtos em lar.



As vacinas modificam o ADN: MITO

Este mito surgiu porque as vacinas da Pfizer e da Moderna utilizam informação genética para estimular a produção de uma determinada proteína que o vírus utiliza para entrar nas células e se replicar. Demasiado complicado para entender? Imagine que o seu sistema imunitário recebe um SMS com as especificações do vírus e as instruções para o eliminar. Da próxima vez que o sistema imunitário se deparar com o vírus já está avisado de que aquele é um alvo a abater.



As vacinas contra a Covid-19 podem matar: MITO

Até à data, não há registo de mortes ocorridas devido à vacinação. O objetivo das vacinas é prevenir a doença, ou seja, dar ao organismo ferramentas para matar o vírus, não o hospedeiro. Este receio foi alimentado pelo receio de complicações devido a efeitos secundários ou de reações alérgicas alegadamente mortais.

Todas as vacinas, inclusive a da gripe, têm efeitos secundários, mas a maior parte são ligeiros e inofensivos: vermelhidão, inchaço ou dor ao redor do local da injeção, dores de cabeça ou musculares, fadiga ou febre. Em situações raras, foram documentadas reações alérgicas graves e é por essa razão pela qual a pessoa vacinada só pode sair do local de vacinação 30 minutos após a aplicação.


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