[Covid-19] Lares: Um reconhecimento a quem se dedica a cuidar dos idosos

Por Daniel Carvalho , 17 de Abril de 2020 Lares e Residências


​Sejamos francos: os lares de idosos têm lidado com todo o tipo de adversidade, desde o início da pandemia. É raro encontrarmos qualquer assunto de cariz positivo associado a um lar, nos últimos dois meses. Criámos um clima sombrio e enganador sobre um setor que tem lutado durante muitos anos para provar o seu valor enquanto parte essencial da sociedade.

Desde o início da pandemia que se associou esta doença às pessoas idosas, contribuíndo, por um lado, para a instalação de algum pânico juntos dos mais velhos e, por outro, de algum relaxe entre os mais jovens. A Covid-19 já provou vezes sem conta que, apesar de ser mais mortífera nos idosos com doenças crónicas, não tem critério algum de seleção.

Em condições normais, este setor não beneficía de qualquer espaço mediático em Portugal. Na primeira vez em que os Lares são mencionados consecutivamente na imprensa o conteúdo das notícias não é representativo do dia-a-dia de quem dedica as suas vidas a cuidar dos idosos. Desta forma, para quem não vive de perto a realidade de um lar torna-se naturalmente difícil imaginar todo o trabalho exaustivo, o sacrifício e, principalmente, a competência empregue por todos os funcionários e administradores de lares.



​Os lares em Espanha e França registam milhares de mortos


É inevitável fazer uma comparação entre Portugal e os dois países mais próximos de nós. Uma comparação direta pode não ser representativo de melhor ou pior desempenho, visto que o contexto económico, social e político são influenciadores. Porém, sabemos que nem França, nem Espanha apresentam contextos sociais ou regimes políticos muito diferentes do nosso, bem como condições económicas inferiores às de Portugal. 

Em França, desde o início da pandemia, já morreram 900 idosos residentes em lares só na região leste. O resto do território francês não apresenta dados concretos em relação a óbitos em lares, o que por si só já é um indicador menos positivo.

No nosso país vizinho, só em Madrid foram indicados mais de 1000 óbitos em lares de idosos, no início de abril. O Ministério das Políticas Sociais afirmou que os números sofreram um atraso na sua divulgação tendo em conta que muitos idosos foram enterrados ou cremados sem autópsia. Assim sendo, não foi possível determinar, em todos os óbitos, se a causa foi ou não a doença Covid-19.

Ora, esta é uma realidade distante da nossa. No final da semana passada foram lançados os primeiros dados relativamente a óbitos em instituições portuguesas, indicando que um terço do total foi registado em lares. Os números são catastróficos e cada morte representa um ponto negro na história do combate a esta pandemia, é um facto. Não se trata de uma comparação do número de mortes, mas sim na abordagem ao tratamento da situação. As equipas dos Lares de Idosos têm sido incansáveis desde o primeiro momento. ​


Se as situações em lares de outros países europeus não se verificam em Portugal, em grande parte se deve à disciplina e à competência dos profissionais dos nossos lares. Este mérito tem de ser reconhecido.



O caos social provocado pelo número de mortes por Covid-19 afetou muito mais França e Espanha do que Portugal, esta é a realidade. No início do mês, o conceituado jornal New York Times referiu precisamente esta questão, afirmando que Espanha deveria seguir os passos de Portugal na luta contra a pandemia, num tom de elogio à postura dos profissionais da linha da frente. 


​Os lares não podem ser responsabilizados pelas mortes dos idosos


É imprudente comunicar o número de mortes em lares afirmando que representa um terço da totalidade de óbitos em Portugal.

​Sabemos desde cedo que o risco de fatalidade da Covid-19 aumenta significativamente a partir dos 80 anos e ainda mais quando existe uma doença crónica ou pulmonar associada. Sabemos também que os lares são espaços onde coabitam muitos idosos com a particularidade de a grande maioria ser dependente ou sofrer de alguma doença.

Estes dois fatores em conjunto representam a pior combinação em termos de mortalidade do vírus. Infelizmente, era de esperar que os lares fossem muito afetados pela pandemia. Não é um fenómeno português, os lares em todo o mundo estão a ser severamente penalizados. É uma consequência praticamente inevitável.

Se nos lares coabitam muitos idosos, era de esperar que fossem muito afetados pela pandemia. 



Partindo de um pressuposto já por si negativo não deve ser feita uma associação entre as mortes em lares e a sua representatividade para o número de mortes total no país. ​Quando esta comunicação foi feita, a 14 de abril, a diretora-geral da Saúde aproveitou para responsabilizar alguns administradores que não respeitaram a proibição de visitas e a necessidade de isolar novo utentes durante 14 dias. 


Em relação às  declarações de 14 de abril, da diretora-geral da Saúde, existem 2 reflexões que devem ser feitas:


​​- Primeiro, durante muito tempo não foi feita uma clara distinção entre a proibição de visitas de familiares a idosos já residentes e a permissão das visitas de idosos tendo em vista a integração no lar. Não havendo uma separação clara entre o que é permitido e o que não é tornou-se difícil para os proprietários tomar decisões acertadas. 

​- Depois, a falha no isolamento de novos utentes durante 14 dias está associada à falta de infraestruturas e recursos humanos dos lares de pequena dimensão. Relembre que só com a última portaria do Governo dedicada a instituições de terceira idade foram apresentadas respostas alternativas caso o lar não conseguisse dar resposta à necessidade de isolamento.

Colaborar num lar de idosos não é uma tarefa fácil


Recentemente promovemos um estudo juntos dos lares onde os resultados demonstraram uma clara necessidade de reforço de colaboradores. Cerca de 74% dos inquiridos afirmaram que tentaram recrutar nos últimos 2 meses. A grande maioria não passou mesmo da tentativa, sendo que o principal fator de insucesso foi precisamente a falta de candidatos.

Este é um fenómeno há muito verificado nesta profissão, mas que se agravou bastante com a chegada da pandemia. Parte significativa dos auxiliares geriátricos não tem qualificação profissional, não tem experiência anterior e aufere uma remuneração perto do salário mínimo nacional. Estas caraterísticas não devem desvalorizar estes profissionais, muito pelo contrário. Estas pessoas acabam por compensar a pouca qualificação com dedicação e espírito de sacrifício redobrado. No final do dia, vidas humanas dependem da sua competência e esta exigência implica um sentido de responsabilidade enorme por parte dos auxiliares geriátricos.


​Ninguém estava preparado para lidar com esta pandemia


​As instituições de terceira idade pertencem ao setor mais penalizado em termos de medidas exigidas. A juntar ao funcionamento habitual de um lar de idosos chegaram uma série de diretrizes de contingência que exigiram um enorme esforço humano e financeiro, esforço esse que muitos lares não tiveram meios para concretizar.

Associado ao processo de enunciação de medidas a tomar está associado o processo de execução e nesse campo também é preciso um apoio do governo. Não nos podemos esquecer que por detrás dos lares de idosos, estão seres humanos com vida fora do contexto de trabalho, com família e, acima de tudo, com sentimentos.


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